História

História e Arte

19-04-2012 20:51

 

Desde a pré-história até aos dias de hoje, homem e toiro partilham o espaço onde coabitam de uma forma muito peculiar. O toiro foi desde símbolo mitológico na Grécia antiga, até actor principal, num espectáculo repleto de arte e emoção, que perdura nos dias de hoje em diversos pontos do Mundo.

 

A península ibérica durante os séculos que compõem a idade média, foi palco de batalhas que careciam de milhares de homens.  Exigia-se portanto, treino intensivo a homens e cavalos, cujas funções careciam de destreza, técnica e coragem. O início da idade média foi fértil para o toureio, baseando-se praticamente, na luta entre o homem e o touro, com um objectivo principal, isto é, matar o touro sem o homem resultar ferido da sua lide.

O toiro através da sua investida, encarnava na perfeição um suposto inimigo, que de forma enérgica e espontânea, dava luta a cavaleiros e a peões que auxiliavam a lide do nobre cavaleiro. Neste caso também o cavalo ibérico evoluiu ao longo dos séculos na base do toureio redondo e ágil.

Entretanto, o que começou como um mero exercício defensivo e preparativo para batalhas corpo a corpo, foi-se aperfeiçoando ao que se entende por "Sortes" (cada um dos actos que o toureiro executa na lide de um touro).

Imposta a lide e a sua ordem, cada uma das sortes foi transformada desde o simples rudimento até à progressiva beleza das formas que se levaram a cabo. A lide deixou de se basear na tosca preparação do touro para a morte e foi dando passos para outra classe de lide, á medida que se ia impregnando maior estética em cada um dos seus actos, até convertê-los em criações artísticas, sem nunca renunciar á sua mais primitiva e última razão: o domínio e a morte do touro a pé ou a cavalo.

 

 

Um ano antes de terminar o séc. XVIII, e após levantadas as proibições das corridas de touros em Espanha, o célebre espanhol Pedro Romero, dava por terminada a sua larga carreira como matador de touros ainda numa época onde o toureio era uma luta mais ou menos lúcida com um touro, para lhe dar a morte, isto é, o toureio ainda não obedecia a normas precisas. De qualquer forma Pedro Romero foi o diestro mais importante do seu tempo e, é dele, que a história da tauromaquia se desencadeia.  

 

Com o passar dos tempos e á medida que o toureio evoluía em Espanha, sentiu-se a necessidade de organizar a produção e a criação do toiro bravo.

O toiro começou a ser criado em quintas próprias com grandes pastagens, designadas de ganadarias (termo espanhol), e foi alvo de uma selecção animal baseada em “tentas”, de forma a apurar inicialmente dois aspectos principais: a morfologia e a bravura.

 

 

 

Tal como é hoje, qualquer ganadaria é sinal de estatuto e deleite do seu proprietário e naquela época não era diferente. Por Espanha inteira, nasceram ganadarias de prestígio, cujos seus toiros eram lidados nas mais distintas praças de toiros, dando origem a uma nova economia nacional. O campo Charro (Região de Salamanca) era, e ainda é, uma das zonas onde pastavam mais toiros em Espanha.

Mesmo junto á fronteira com Portugal e mais propriamente na raia sabugalense, situavam-se diversas ganadarias, que criavam toiros para corridas e festejos populares taurinos locais.

 

 

Como é natural, de tempos a tempos escapava uma vaca ou mesmo um toiro, de uma ganadaria espanhola para as imediações das aldeias portuguesas, fazendo tocar os sinos da igreja local a rebate. Depressa se juntavam os populares mais capazes, de forma a escorraçar o animal desnorteado que em princípio apenas contemplava melhores pastos.

 

 

Nesta zona raiana, as aldeias subsistiam essencialmente da agro-pecuária, que permitiu ás suas gentes aproveitar a experiencia do seu dia a dia, para que, com base nos seus utensílios agrícolas, inspirar-se na construção de um instrumento de luta apelidado de “Forcão”. Este "instrumento de defesa" agregava e protegia a força popular, e acima de tudo, servia quase garantidamente para vencer e espantar o animal.

Uma das explicações mais consentâneas, relaciona a estrutura do forcão, com a típica cancela de madeira, pois era móvel, de fácil transporte e permanecia em qualquer lameiro. Quanto á forma dianteira do forcão (as galhas) é praticamente unânime que provém do forcado, uma alfaia agrícola amolada, totalmente de madeira ou de ferro, usada principalmente para trabalhos pesados como levantar palha, feno ou estrume.

 

 

Logo que era avistada uma rês brava em solo indesejado, o forcão era utilizado para por cobro á situação momentânea. Enquanto não se desenrolava o confronto, eram frequentes os prejuízos em hortas e lameiros, que os animais forasteiros provocavam, necessitando mais tarde de ser reparados pelos donos dos toiros.

Inicialmente, a utilização do forcão pelo homem contra o toiro, tratou-se de um combate indesejado por ambas as partes. No entanto, depressa se percebe que devido à adrenalina e emoção sentida durante esta lide, tais momentos imprimiam a pouco e pouco uma determinada aficcion nas gentes lusas, que com o passar dos tempos e com o aperfeiçoamento da técnica de "pegar ao forcão", fez encarar o toiro, não como um problema, mas como uma grande aventura de grupo.

A partir de determinada altura, os portugueses raianos sugeriram aos ganaderos espanhois, que em vez de serem ressarcidos em dinheiro ou bens, pelos estragos causados, preferiam o empréstimo de vacas ou novilhos bravos, de forma a serem lidados em recintos fechados tal como nas "Capeas" espanholas (Fuenteguinaldo por exemplo). 

Com o passar dos anos, a capeia à moda das gentes raianas do Sabugal (Capeia Arraiana) foi-se enraizando na própria cultura popular local e integrou-se na perfeição nas festividades religiosas de cada aldeia, celebradas no mês de Agosto.

 

 

“Um metro para lá da raia e o festejo não tem continuidade nem nada que se assemelhe no folclore nos nossos vizinhos. De igual modo em território português nada mais existe de semelhante” (…)

“Sai o touro, investe com o forcão, mas o rabejador ou rabichador, alto valente, entendido evita que os ataques pelos flancos, no que é auxiliado pelos dois dos lados, os das galhas, e outros, munidos de garrochões e massas, fazem recuar o touro no seu ímpeto formidável.”(…)

 

 

 

O desenvolvimento progressivo das múltiplas fases culturais, etnológicas, e tradicionais da Capeia arraiana, sucedeu naturalmente de ano para ano, sempre sem descorar das gentes que a recriam anualmente e a não deixaram morrer até aos dias de hoje, através da ancestral nomeação de mordomos ou de actuais comissões organizativas.

 

 

A Arte

Não é só na arena que a Tauromaquia se expressa enquanto arte, mas em diversas obras, como a literatura, a pintura, a musica, a dança, o cinema ou as artes plásticas.

Associados à tauromaquia estão nomes inesquecíveis, considerados referencias eternas, ligados ás mais diversas formas de arte, contradizendo aqueles, que abordam a "Festa" como espectáculo rude e inculto, desprovido de qualquer conceito artístico.

 

Pablo Picasso

 

Frederico Garcia Lorca

 

Salvador Dali

 

Hernest Hemingway

 

Jean Cocteau

 

Montherlant Doumerque

 

Vargas Llosa

 

 

 A Capeia arraiana, antes de ser um acto cultural com características tradicionais é, acima de tudo, uma forma de arte. Uma arte ancestral, ensinada e aprendida aos longo dos anos, que traduz todos os sentimentos que uma determinada população exprime diante de um toiro.

 

 

 

 

“Geralmente os rapazes movimentam-se com um passo acertado de forma a não tropeçarem uns nos outros, convertendo-se a dupla forcão/rapazes numa só peça, intacta e harmoniosa. Há ainda pegadores que conservam o precioso silêncio quando pegam ao forcão, manifestando um gracioso clamor de exclamação de intensidade proporcional a cada arremetida do touro.” (…)

 

 

 

 

Mais informações em:

https://www.matrizpci.imc-ip.pt/MatrizPCI.Web/Inventario/InventarioConsultar.aspx?IdReg=284

 

 

 

 

 

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